O que vem primeiro: o ovo ou a galinha? No mercado, a questão é semelhante: o Bitcoin está apenas acompanhando os índices acionários dos EUA e o apetite por risco, ou a queda do BTC/USD servirá como sinal de alerta para o S&P 500? Estaria a bolsa norte-americana à beira de um colapso? A mais recente onda de vendas no mercado cripto sugere que sim.

Após renovar sua máxima histórica, o Bitcoin sofreu uma queda brusca, recuando quase 4% em poucos instantes. Essa correção reduziu a capitalização total do mercado cripto para abaixo da marca psicológica de 4 trilhões de dólares. A pressão vendedora foi desencadeada pelos comentários do secretário do Tesouro, Scott Bessent, em meio à disparada dos preços ao produtor nos EUA, que atingiram o maior nível em três anos.

Até então, os ativos digitais pareciam contar com apoio firme da Casa Branca, especialmente após a aprovação, pelo Congresso, de um projeto de lei sobre stablecoins. Donald Trump havia reforçado essa percepção ao afirmar que os EUA adotariam estratégias orçamentárias neutras para acumular reservas em criptoativos. Esse otimismo vinha sustentando a escalada do BTC/USD. No entanto, as declarações de Bessent caíram como um balde de água fria sobre os compradores.

O secretário destacou que a Casa Branca não planeja adquirir Bitcoin. Ressaltou, porém, que os tokens já confiscados serão mantidos, sem intenção de vendê-los. Essa posição se alinha à promessa de Trump de transformar os Estados Unidos na capital mundial das criptomoedas.

Dinâmica da correlação entre Bitcoin e ações

O sinal desfavorável emitido pelo secretário do Tesouro, aliado à aceleração dos preços ao produtor e aos fortes dados de vendas no varejo nos EUA, forçou os touros do BTC/USD a recuar. Como resultado, as chances de um corte na taxa de juros pelo Fed em setembro caíram de quase 100% para cerca de 85%. Ainda assim, o S&P 500 pouco se afastou de suas máximas históricas. Se uma correção mais ampla ocorrer, o Bitcoin poderá começar a ser interpretado como um indicador antecedente.

O amplo índice de ações segue sustentado por investidores de varejo — a chamada "multidão" — que compram nas quedas. No mercado cripto, no entanto, a dinâmica é diferente: a dominância tem migrado das tradicionais baleias para grandes players institucionais. Esse grupo inclui tesourarias corporativas, impulsionadas pela estratégia de Michael Saylor, além de fundos negociados em bolsa (ETFs) especializados. A participação crescente desses atores torna a estratégia clássica de "comprar na baixa" no mercado cripto mais complexa.

Dinâmica das vendas no varejo dos EUA

Na minha opinião, o S&P 500 avançou demais. Valorações excessivamente altas e múltiplas vulnerabilidades aumentam o risco de uma correção no amplo índice de ações. Este recuo quase certamente levaria o BTC/USD para baixo também. A incapacidade do Bitcoin de se manter próximo às máximas históricas já é o primeiro sinal de fraqueza dos compradores.

Tecnicamente, no gráfico diário da principal criptomoeda, formou-se um padrão de reversão conhecido como Anti-Turtles. Uma queda do BTC/USD abaixo da mínima da barra no ponto 1 ou 119.000 segundo as regras clássicas, forneceu base para posições vendidas. Um novo gatilho para vendas seria uma quebra bem-sucedida do suporte pivô em 114.750.