Onde é fino, tende a rasgar. Os investidores começam a se fazer as perguntas difíceis: que tipo de lucro real as empresas de tecnologia estão obtendo com a inteligência artificial? Quando a resposta se revela "quase imperceptível" — tão pequena que precisa ser examinada com lupa —, o pânico começa a se instalar. Resultados decepcionantes da Oracle em suas parcerias com a OpenAI e outras empresas desencadearam uma onda de vendas no S&P 500. A Tesla agravou ainda mais o cenário ao apresentar novas versões de seus veículos mais vendidos abaixo das expectativas.

Com um grau tão elevado de concentração no mercado acionário dos EUA, o índice amplo é obrigado a reagir a qualquer notícia vinda das gigantes de tecnologia, incluindo as chamadas "Sete Magníficas". Fundamentos insustentáveis — especialmente nas avaliações — acabam levando a um rebalanceamento dos portfólios. O índice preço/lucro (P/L) agora é negociado em patamares tão extremos quanto os observados durante a bolha das pontocom, há 25 anos.

Dinâmica do índice P/E do S&P 500

Um período de consolidação no S&P 500 parece não apenas natural, mas saudável, após o índice registrar sua 32ª máxima histórica do ano. A paralisação em andamento do governo dos EUA também pesa sobre o sentimento do mercado, e os investidores começam a duvidar se o Federal Reserve realmente cortará os juros duas vezes em 2025, como anteriormente esperado. Caso até mesmo um único corte seja adiado ou cancelado, essa decepção provavelmente se refletirá em todo o mercado acionário. O nível atual do S&P 500 já incorpora expectativas de que a taxa dos federal funds caia para 3,75% até o final do ano.

Além disso, os recentes alertas do presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari — especialmente sobre o risco de reacender a inflação caso a política monetária seja afrouxada de forma agressiva —, somados ao aumento das expectativas de inflação do consumidor relatadas pelo Fed de Nova York, reforçaram a correção em andamento no S&P 500.

Expectativas de inflação dos consumidores dos EUA

Quando a ganância domina, até o menor catalisador, o bater de asas de uma borboleta, pode desencadear uma tempestade. Recentemente, a euforia tomou conta do mercado acionário dos EUA. Segundo o Goldman Sachs, o sentimento otimista entre os clientes voltou ao nível mais alto desde dezembro. O indicador do Barclays aponta um mercado "transbordando de exuberância", e o índice de sentimento da Bloomberg entrou em sua chamada "zona maníaca".

Euforias raramente terminam bem. O efeito borboleta pode provocar uma queda no S&P 500 muito mais acentuada do que o esperado. Ainda assim, a estratégia de "comprar na baixa" permanece, e a disputa entre touros e ursos pode, ao final, conduzir a uma fase de consolidação. Nesse cenário, outubro pode confirmar sua fama de mês mais volátil para o índice amplo do mercado acionário.

Na minha visão, quanto mais durar a paralisação do governo, mais sensível o mercado se tornará a ela. O atraso na divulgação de dados econômicos gera incerteza e obriga o Fed a adotar postura cautelosa, retirando uma das armas mais importantes dos compradores.

Do ponto de vista técnico, o S&P 500 acabou de completar uma correção após a formação de uma vela de barra interna no gráfico diário. Apesar disso, a tendência de alta permanece intacta. Recuos a partir dos níveis de resistência em 6.680, 6.660 e 6.585 parecem oferecer boas oportunidades de compra.