As tensões geopolíticas no Oriente Médio continuam exercendo forte influência sobre os mercados financeiros. Um ponto central de preocupação é a estabilidade do cessar-fogo entre Teerã e Tel Aviv — anunciado com destaque anteriormente pelo presidente dos EUA.
Todos os países diretamente envolvidos no conflito — Israel, Estados Unidos e Irã — parecem reconhecer que uma vitória clara para qualquer um dos lados é inalcançável. Americanos e israelenses não atingiram seus objetivos estratégicos, mas o Irã tampouco possui capacidade para iniciar operações ofensivas de grande escala. Isso rebaixa o conflito a uma forma mais contida e latente, característica da instabilidade crônica que marca essa região há décadas.
Neste cenário, os principais beneficiários são, sem dúvida, os países produtores de petróleo bruto, já que a tensão contida ajuda a sustentar os preços da commodity. Esse desfecho parece conveniente para muitos dos grandes atores envolvidos — especialmente os de fora do Oriente Médio. Uma trégua temporária dificilmente será definitiva: as partes precisarão de tempo para se reestruturar antes que o ciclo de hostilidades possivelmente se reinicie.
Por ora, o leve arrefecimento das tensões é visto pelos investidores como um sinal positivo, o que tem impulsionado a demanda por ações e criptomoedas. Já o dólar americano e o ouro seguem sob pressão.
Com a pausa no conflito militar, o foco dos mercados volta-se para outros eventos relevantes, como o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, programado para hoje.
Qual será o peso do discurso de Powell?
A expectativa é de que suas declarações não tragam grandes novidades. Ontem, em depoimento ao Congresso, Powell afirmou que não há pressa em retomar os cortes de juros. Ele reiterou sua posição — compartilhada por outros dirigentes do Fed — de que é mais prudente aguardar uma compreensão mais clara dos efeitos das tarifas impostas na era Trump (tanto as atuais quanto as que o governo dos EUA pode vir a adotar em breve) sobre a economia doméstica, antes de considerar ajustes nas taxas.
Isso indica que os mercados continuarão à procura de novos catalisadores — especialmente ligados ao cenário geopolítico, com destaque para o Oriente Médio.
A agenda desta quarta-feira inclui discursos dos membros do Banco da Inglaterra: Andrew Bailey, Huw Pill e Sarah Breeden. No entanto, devido ao alcance relativamente restrito da economia britânica no cenário global, esses comentários não devem provocar grandes impactos nos mercados. Mesmo a libra esterlina, nesse contexto, tende a ser mais influenciada pela trajetória do dólar americano do que por fatores domésticos.
O que esperar dos mercados hoje?
Os participantes do mercado seguirão avaliando a sustentabilidade do cessar-fogo entre Irã e Israel, que conta com o envolvimento direto dos Estados Unidos. Quanto mais tempo esse acordo se mantiver — ainda que de forma frágil —, maiores serão os incentivos para uma continuidade do movimento de alta nos mercados.
Em relação ao dólar americano, várias incertezas continuam pesando sobre sua trajetória: os desdobramentos no Oriente Médio, as expectativas em torno das taxas de juros do Federal Reserve e as perspectivas para o crescimento econômico dos EUA devem manter a pressão descendente sobre a moeda.
No mercado de criptomoedas, um cenário semelhante é esperado: os preços devem permanecer em uma faixa lateral, com pouca definição no curto prazo.
Os preços do petróleo bruto, por sua vez, registram poucas variações, contidos pelo frágil cessar-fogo. No entanto, podem disparar rapidamente caso as tensões se intensifiquem novamente.
A recuperação constante do ouro reforça a percepção de que a instabilidade no Oriente Médio persiste. Uma nova rodada de confrontos parece provável, considerando que todas as partes envolvidas — com exceção dos Estados Unidos — estão insatisfeitas com os desdobramentos da primeira fase do conflito.
Previsão para o dia
EUR/USD
O par está sendo negociado em seu nível mais alto desde novembro de 2021, apoiado principalmente pela fraqueza geral do dólar americano. Uma correção de baixa pode ocorrer devido às condições técnicas locais de sobrecompra e à incerteza em relação à trajetória do cessar-fogo no Oriente Médio. Uma queda abaixo da marca de 1,1600 pode levar a uma queda em direção a 1,1545. O nível de 1,3596 pode servir como um ponto de venda potencial para o par.
GBP/USD
O par tem sido negociado em seu nível mais alto desde fevereiro de 2022, apoiado pela fraqueza geral do dólar. Uma retração pode ocorrer devido às condições locais de sobrecompra e à incerteza sobre os desenvolvimentos no Oriente Médio. Uma queda abaixo do nível 1,3600 poderia levar o par para 1,3550. O nível 1,1595 poderia servir como um ponto de venda potencial.