O mercado de trabalho da Austrália superou as expectativas — praticamente todos os indicadores do relatório de emprego de abril vieram dentro da "zona verde". Apesar de algumas pequenas fragilidades nos dados, o balanço geral favoreceu o dólar australiano, reduzindo de forma significativa a probabilidade de um corte na taxa de juros por parte do Banco da Reserva da Austrália (RBA) na reunião de maio.
Em reação ao relatório, o dólar australiano ganhou força frente ao dólar norte-americano, avançando para a faixa média de 0,64. Embora os vendedores de AUD/USD tenham retomado o controle logo em seguida, os dados divulgados continuam relevantes e devem voltar ao centro das atenções na próxima semana, durante a reunião do RBA.
Segundo os dados divulgados, a taxa de desemprego da Austrália em abril manteve-se estável em 4,1%, o mesmo nível de março, alinhada às expectativas do mercado — ou seja, sem surpresas nessa frente. No entanto, os números da variação do emprego surpreenderam positivamente: o número de pessoas empregadas aumentou em 89.000, o maior avanço desde fevereiro de 2024. Esse resultado superou em mais de quatro vezes a projeção média dos analistas, que estimavam um acréscimo de cerca de 20.000 vagas.
Uma análise mais detalhada do relatório mostra que o crescimento foi amplamente puxado pelos empregos em tempo integral, com um aumento de 59.500 postos, enquanto os empregos de meio período cresceram 29.500. Além disso, os dados de março foram revisados levemente para cima — de 32.000 para 36.400. No entanto, a composição desse crescimento também foi ajustada: anteriormente, estimava-se um aumento de 15.000 empregos em tempo integral e 17.000 em meio período. Os números revisados indicam uma maior concentração em empregos de meio período — 12.200 contra 24.200, respectivamente. Trata-se de uma imprecisão relativamente pequena, mas ainda assim relevante na divulgação anterior.
Outro dado importante foi o aumento da taxa de participação da força de trabalho, que subiu para 67,1% em abril — acima das expectativas, que apontavam para a manutenção dos 66,8% registrados em março. Esse é o nível mais alto desde janeiro deste ano.
O que esses dados revelam? Em essência, que o mercado de trabalho australiano segue aquecido. O ritmo de crescimento do emprego vem acelerando pelo segundo mês consecutivo — de 36.000 em março para quase 90.000 em abril.
Diante desse cenário, a principal pergunta é: o RBA reduzirá a taxa de juros ainda este mês, mesmo diante de um mercado de trabalho apertado, incertezas quanto ao crescimento global e dados inflacionários mistos?
Essa está longe de ser uma pergunta retórica, já que o mercado ainda não chegou a um consenso. Economistas do ANZ, Standard Chartered e Westpac, por exemplo, acreditam que o banco central cortará os juros em 25 pontos-base na próxima reunião, marcada para 20 de maio. Analistas do ANZ argumentam que o RBA pode optar por ignorar os dados sólidos do mercado de trabalho e concentrar-se no núcleo da inflação (trimmed mean CPI), que, pela primeira vez desde o quarto trimestre de 2021, retornou à faixa-alvo do banco.
Outros analistas, no entanto, defendem que o RBA pode adiar esse corte — e não apenas por conta da resiliência do mercado de trabalho. Vale lembrar que o índice cheio de preços ao consumidor (CPI) no primeiro trimestre avançou mais do que o previsto, subindo 0,9% no trimestre, ante uma expectativa de 0,8% (após dois trimestres consecutivos de apenas 0,2% de alta). Na comparação anual, o CPI também acelerou, atingindo 2,4% contra a projeção de 2,3%. Além disso, o índice de salários (wage price index) cresceu 0,9% no trimestre — o ritmo mais forte desde o primeiro trimestre de 2024.
Essa incerteza sobre o rumo da política monetária na reunião do RBA pode servir como suporte adicional para o dólar australiano — especialmente se o banco optar por adotar uma postura de espera. Em minha opinião, esse é o cenário mais provável.
Mas isso é assunto para a próxima semana. Por ora, os traders de AUD/USD operam com cautela, à espera do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, durante a sessão americana. O par está sendo negociado dentro da faixa de 0,6400–0,6490, ou seja, entre as linhas média e inferior das Bandas de Bollinger no gráfico diário (D1).
Se Powell adotar um tom mais pessimista (ele já alertou que novas tarifas nos EUA poderiam acelerar a inflação, reduzir o emprego e desacelerar o crescimento), o dólar americano pode ceder, abrindo espaço para o AUD/USD testar novamente o patamar de 0,65. Por outro lado, caso ele reaja positivamente aos desdobramentos da reunião em Genebra — que resultou em uma trégua comercial entre EUA e China —, o dólar pode ganhar fôlego, e os vendedores de AUD/USD voltarão a mirar a região de 0,63.
O clima segue tenso, e diante dessa incerteza, manter uma postura de espera ainda parece ser a estratégia mais prudente — mesmo com o forte payroll australiano, que, na prática, oferece suporte ao Aussie.